Um blogue que não e um blogue !Tambem não sei o que é , mas que dá para marcar jantares dá ! Apesar de às vezes ser dificil...Mas no fim consegue-se sempre
quarta-feira, 26 de outubro de 2016
Coemeterium
“Cada um de nós traz no fundo de
si um pequeno cemitério daqueles que amou.”Romain Rolland
Todas as as decepções são secundárias…o único mal
irreparável é o desaparecimento físico de alguém a quem amamos.
"Na mesma pedra se encontram, Conforme o povo traduz, Quando se nasce - uma estrela, Quando se morre - uma cruz. Mas quantos que aqui repousam Hão de emendar-nos assim: "Ponham-me a cruz no princípio... E a luz da estrela no fim!"
A morte pode ser vista como um mistério incompreensível. Ou como um absurdo inaceitável. A morte pode até ser tratada como um tabu. Mas, seja como for, aceitemos isso ou não, a morte é uma realidade inexorável. Por mais que queiramos nos esconder dela, deixar de existir é tão natural quanto existir. Na verdade, a morte é provavelmente a única coisa certa na nossa existência: é certo que todos nós vamos morrer um dia.
Reconciliemo-nos com a morte. Não por morbidez, não para nos esquecermos de viver, não porque seja bom deixar de existir. Mas simplesmente porque ela vai acontecer e não somente comigo, mas com todos os que andaram, andam ou venham a andar sobre a Terra. A vocês e a mim, portanto, resta apenas aprender a conviver com ela. Encará-la de frente, compreendê-la, admiti-la. Em vez de tentar escamoteá-la, negá-la, escondê-la debaixo do tapete. E, quem sabe, assim, sofrer menos com a visita que ela nos fará um dia e com os eventuais sinais da sua presença que ela já tenha plantado ao nosso redor.
Em todas as almas há coisas secretas cujo segredo é guardado até à morte delas. E são guardadas, mesmo nos momentos mais sinceros, quando nos abismos nos expomos, todos doloridos, num lance de angústia, em face dos amigos mais queridos - porque as palavras que as poderiam traduzir seriam ridículas, mesquinhas, incompreensíveis ao mais perspicaz. Estas coisas são materialmente impossíveis de serem ditas. A própria Natureza as encerrou - não permitindo que a garganta humana pudesse arranjar sons para as exprimir - apenas sons para as caricaturar. E como essas ideias-entranha são as coisas que mais estimamos, falta-nos sempre a coragem de as caricaturar. Daqui os «isolados» que todos nós, os homens, somos. Duas almas que se compreendam inteiramente, que se conheçam, que saibam mutuamente tudo quanto nelas vive - não existem. Nem poderiam existir. No dia em que se compreendessem totalmente - ó ideal dos amorosos! - eu tenho a certeza que se fundiriam numa só. E os corpos morreriam.
Mário de Sá-Carneiro, in 'Cartas a Fernando Pessoa'
Mortos que em certas horas me falais Com a vossa mudez ou murmúrios subtis, Dizei: Custa muito morrer? Há lá, por esse mundo, uma outra vida, Que valha a pena viver?
Mortos que em certas horas me tocais Com a vossa mão fria, Dizei-me: Com a morte tudo acaba, Ou, como se nascêssemos de novo, Um novo mundo principia?
Nada sei. Sou inexperiente da morte, Pois não morri ainda. Queria saber e desvendar Se com a morte que tomba Alguma coisa começa, Ou, se pelo contrário, tudo finda.
Esses que amei, com quem vivi, felizes, Num mundo de amarguras povoado, De novo, poderei tornar a vê-los, Felizes ao meu lado?
Ilusões, quem as criou, É um benfeitor Que merece guarida! Dai-me a ilusão, todos vós que morrestes, De uma outra vida melhor Para além desta vida.
O tempo não apaga marcas, mas como disse Imprória “suaviza a dor”, o tempo só faz o trabalho dele, que é o de passar…cabe ao nosso interior decidir o que fica eterno e o que "vai desaparecendo", para não vivermos numa constante angústia.
Um traço, um berço Dois destinos que se cruzam na lonjura da distância Erva fálica pelo caminho Distúrbios, subúrbios Automóveis ferrugentos desenhando o horizonte Os paralelos asfixiam a alma Solidão, saudade Romagens, romaria aos queridos defuntos Carcaças abandonadas ao passado Lágrimas, fábricas Tempo invernoso sublinhando a ausência A música ouve-se triste Solidão! Saudade! Romagens! Romarias! Solidão! Saudade! Queridos! Defuntos!
Nós gostávamos que o coração fosse algo com mais vida para além do sangue que o bombeia mas não é: é um órgão que bate e se cala um dia. Não queiram complicar a vida quando ela termina sempre em morte, há tanto por viver…
18 comentários:
"Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce - uma estrela,
Quando se morre - uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
"Ponham-me a cruz no princípio...
E a luz da estrela no fim!"
Mário Quintana
A condizer com o dia que se aproxima.
"A vida dos mortos habita na memória dos vivos."
A morte pode ser vista como um mistério incompreensível. Ou como um absurdo inaceitável. A morte pode até ser tratada como um tabu. Mas, seja como for, aceitemos isso ou não, a morte é uma realidade inexorável. Por mais que queiramos nos esconder dela, deixar de existir é tão natural quanto existir. Na verdade, a morte é provavelmente a única coisa certa na nossa existência: é certo que todos nós vamos morrer um dia.
Reconciliemo-nos com a morte. Não por morbidez, não para nos esquecermos de viver, não porque seja bom deixar de existir. Mas simplesmente porque ela vai acontecer e não somente comigo, mas com todos os que andaram, andam ou venham a andar sobre a Terra. A vocês e a mim, portanto, resta apenas aprender a conviver com ela. Encará-la de frente, compreendê-la, admiti-la. Em vez de tentar escamoteá-la, negá-la, escondê-la debaixo do tapete. E, quem sabe, assim, sofrer menos com a visita que ela nos fará um dia e com os eventuais sinais da sua presença que ela já tenha plantado ao nosso redor.
As Coisas Secretas da Alma
Em todas as almas há coisas secretas cujo segredo é guardado até à morte delas. E são guardadas, mesmo nos momentos mais sinceros, quando nos abismos nos expomos, todos doloridos, num lance de angústia, em face dos amigos mais queridos - porque as palavras que as poderiam traduzir seriam ridículas, mesquinhas, incompreensíveis ao mais perspicaz. Estas coisas são materialmente impossíveis de serem ditas. A própria Natureza as encerrou - não permitindo que a garganta humana pudesse arranjar sons para as exprimir - apenas sons para as caricaturar. E como essas ideias-entranha são as coisas que mais estimamos, falta-nos sempre a coragem de as caricaturar. Daqui os «isolados» que todos nós, os homens, somos. Duas almas que se compreendam inteiramente, que se conheçam, que saibam mutuamente tudo quanto nelas vive - não existem. Nem poderiam existir. No dia em que se compreendessem totalmente - ó ideal dos amorosos! - eu tenho a certeza que se fundiriam numa só. E os corpos morreriam.
Mário de Sá-Carneiro, in 'Cartas a Fernando Pessoa'
Súplica
Mortos que em certas horas me falais
Com a vossa mudez ou murmúrios subtis,
Dizei: Custa muito morrer?
Há lá, por esse mundo, uma outra vida,
Que valha a pena viver?
Mortos que em certas horas me tocais
Com a vossa mão fria,
Dizei-me: Com a morte tudo acaba,
Ou, como se nascêssemos de novo,
Um novo mundo principia?
Nada sei.
Sou inexperiente da morte,
Pois não morri ainda.
Queria saber e desvendar
Se com a morte que tomba
Alguma coisa começa,
Ou, se pelo contrário, tudo finda.
Esses que amei, com quem vivi, felizes,
Num mundo de amarguras povoado,
De novo, poderei tornar a vê-los,
Felizes ao meu lado?
Ilusões, quem as criou,
É um benfeitor
Que merece guarida!
Dai-me a ilusão, todos vós que morrestes,
De uma outra vida melhor
Para além desta vida.
Alfredo Brochado, in "Bosque Sagrado"
Cada vez mais...vagueia muita gente pelas ruas, dividida entre ser e não ser, existir e não existir!
O ambiente anda sombrio.
O tempo tem o dom de suavizar a dor Legionário
:)
O tempo não apaga marcas, mas como disse Imprória “suaviza a dor”, o tempo só faz o trabalho dele, que é o de passar…cabe ao nosso interior decidir o que fica eterno e o que "vai desaparecendo", para não vivermos numa constante angústia.
1º De Novembro
Um traço, um berço
Dois destinos que se cruzam na lonjura da distância
Erva fálica pelo caminho
Distúrbios, subúrbios
Automóveis ferrugentos desenhando o horizonte
Os paralelos asfixiam a alma
Solidão, saudade
Romagens, romaria aos queridos defuntos
Carcaças abandonadas ao passado
Lágrimas, fábricas
Tempo invernoso sublinhando a ausência
A música ouve-se triste
Solidão!
Saudade!
Romagens!
Romarias!
Solidão!
Saudade!
Queridos!
Defuntos!
A morte dos nossos entes queridos
Não é apenas
O nosso mundo
As nossas relações
A nossa afectividade
As vozes do nosso coração
Que afunilando vão
É também
Rostos, caras desfocadas
Memórias extremadas
Mundividências apagadas
Recordações nubladas
É ainda
Os jardins da nossa infância
Transformados em desertos
Roseirais depenados
Gestos, sorrisos idos
Afectos brumas feitos
A morte dos nossos entes queridos vem nos à memória
Re
Ta
Lhos
De Nós
A morte dos nossos entes queridos levam
Pe
Da
Ços
De Nós
*Juvepp
O que chamais de morrer
é acabar de morrer
E o que chamais nascer
é começar e morrer
E o que chamais viver
É morrer vivendo.
Nós gostávamos que o coração fosse algo com mais vida para além do sangue que o bombeia mas não é: é um órgão que bate e se cala um dia.
Não queiram complicar a vida quando ela termina sempre em morte, há tanto por viver…
Infelizmente, o que vem sem ser chamado...é o destino ao qual ninguém pode escapar.
Não era para este sábado que tinha ficado marcado o repasto de cabrito?
se era, quem falou nisso está calado, portanto não sei de nada.
Ouvi dizer que o cabrito ainda está na engorda, junto com os porcos.
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